IFMR-SA South American Tour 2012
Relato da viagem
Introdução
Relato da viagem
Introdução
Na última
viagem grande que fizemos, eu e a Chris, houve o caso da moto dela que se
incendiou no Chile e ficou por lá. Para nós foi um problema pontual, tanto que
continuamos a viagem em uma moto só, seguindo o planejado. O fato é que, com o
acontecido, cheguei à conclusão que os relatos são apenas para marcar nossa
história para nós mesmos. Quem os lê a procura de informações, nem sempre lê
tudo o que escrevemos ou, sente as emoções que colocamos nas palavras e, quem
leu o relato da última viagem, o fez para saber sobre o caso da moto pegando
fogo. Em resumo, relatos de viagem, ao menos as que fazemos, servem apenas como
diário nosso mesmo. O povo “quer ver o circo pegar fogo” e não as boas
experiências e emoções.
A moto (que restou) parecia um caminhão tanque de tanta bagagem!
Estamos bem
longe de sermos grandes conquistadores, exploradores ou algo do tipo. As
“grandes viagens” para nós, tem mais a ver com a experiência e desenvolvimento
pessoal do que qualquer outra coisa. Por algum motivo que ainda não consigo
entender, sempre que sei ou conheço um pouco de algo, tenho a vontade aguda de
passar isso pra frente. Tenho medo daquela frase “Quem sabe faz, quem não sabe, ensina”, mas mesmo assim faço isso.
Na volta da
viagem de 2011, comecei a pensar se não seria interessante formar um grupo para
visitar os locais que visitamos nela. Costumamos fazer um planejamento tão
completo dos locais a visitar, focando não o comum, mas as possibilidades “ao
redor” de visitação. Será que seria interessante passar essa experiência?
Passar a forma como pesquisamos, como elaboramos todo o planejamento e
executamos nossas viagens? E sei lá por que, mas a vontade reincidente
reincidiu. Comecei a pensar seriamente em formar um grupo e entrar de cabeça no
papel de guia turístico. Talvez para saber como seria, ou para desenvolver
relações pessoais.
Quando lancei
a ideia para alguns amigos mais próximos, alguns apoiaram e outros nem tanto.
Um chegou até a me falar que o que eu queria era promoção pessoal, que eu não
passava de um “mimado”, vai entender! Se eu não entendo o porquê, como vou
exigir que outra pessoa o entenda. Fato é que eu estava animado e ansioso em
empreender uma viagem assim, com esse padrão de planejamento e de
responsabilidade. Uma viagem em grupo, onde a organização total seria minha.
Planejamento, roteiro, hospedagens e passeios seriam todos desenvolvidos por
mim. Eu repassaria aos participantes a experiência que já havia adquirido,
faríamos um passeio lindo por lugares alternativos até certo ponto e, de alguma
forma, eu me realizaria naquela vontade reincidente. Vai entender de novo!
No inicio,
prepotentemente, pensei em cobrar uma taxa para os participantes a título de
“pagamento da minha experiência”. Depois, pensando melhor, e reagindo às
patadas do amigo que me chamou de “mimado”, achei por bem cobrar sim, mas
reverter esse valor para uma doação. Fiz isso mesmo e, além de me sentir
melhor, foi mais fácil de o pessoal pagar ou, doar. Se eu cobrasse um valor que
ficaria para mim, talvez a responsabilidade se transformasse em obrigação de
sucesso e isso me deu certo receio. Enfim, assim funcionou.
Fiz o convite
ao nosso grupo de amigos e de inicio tivemos mais de 40 interessados que, aos
poucos foram diminuindo até formar o grupo final, de oito pessoas, sendo dois
casais, então em sete motos, contando com a minha. Do convite ao início da
viagem, se passaram sete meses e, enquanto o grupo ia se definindo, eu ia
preparando o planejamento.
1ª Fase – Planejamento
Existe
satisfação maior do que a de conquistar a confiança das pessoas que te seguem? Antes
de falar do planejamento em si, quero falar sobre isso: sabe quando você está
indo bem nos negócios ou em um esporte e outra pessoa fala “nossa você tem
muita sorte hein!”? Aconteceu isso comigo durante a viagem, por conta do
planejamento. Estávamos em algum lugar, algum posto ou parada e eu estava
escutando os companheiros conversarem, quando um deles fala pro outro que
aquelas paradas, a cada 150 quilômetros, eram coincidências! Ou seja, as horas
que passei na frente do computador verificando as estradas onde havia paradas
com esse intervalo, por conta das motos com menor autonomia, tinham sido
interpretadas como coincidência. Um dos amigos, gozador de primeira categoria,
já vira aos berros falando “nossa André, o cara chamou teu planejamento de
coincidência!” e caímos todos na risada e, pior, o que falou que era
coincidência, ouviu durante toda a viagem, a cada parada, a cada posto, a cada
hotel, aquela gozação. Coisas de amigos e de viagens, mas olhem, é o mesmo da
frase que mencionei acima, “nossa você tem muita sorte hein!”. Eu fiquei
lisonjeado com isso!
Agora
falando do planejamento. Eu o dividi em duas partes inicialmente. Uma para
antes do grupo definido, onde falei de generalidades como a preparação do
participante, da moto, documentações e etc, e outra, já depois de definido quem
realmente participaria, falando dos hotéis, passeios e do trajeto definitivo.
Bagagem sendo preparada...
...enviava sempre fotos assim para motivar o pessoal...
...ou desmotivar!!!
Como
para muitos seria a primeira grande viagem, fiz contato com alguns lojistas
para negociar descontos, para que esses amigos pudessem comprar equipamentos
com algumas vantagens. Assim também o fiz para a contratação de seguros, câmbio
de dinheiro e outros.
Enquanto
os companheiros se preparavam, comecei a definir os locais onde nos
hospedaríamos e assim negociei com cada um deles nossas diárias. Fiz isso também
com as oficinas onde faríamos manutenções nas motos. Aliás, com relação à
manutenção das motos, uma coisa a se prestar atenção em planejamento é a
questão do calendário dos países a se visitar. Cheguei a um ponto onde tinha
que remanejar a revisão de troca de óleo das motos por conta de um feriado no
Chile. A troca que seria feita em Antofagasta, acabou sendo feita antes, em
Santiago por conta de feriados na data em que estaríamos lá.
A
autonomia das motos também foi um ponto a ser trabalhado no planejamento.
Algumas não passariam de 200 quilômetros e, sendo assim, algumas estradas nós
teríamos que evitar.
Durante
esse período, a troca de mensagens foi bastante intensa, tanto entre todos os
participantes quanto pessoalmente. Em alguns casos específicos onde se fazia
necessária alguma ferramenta especial ou alguma peça sobressalente a mais, eu tratei
pessoalmente com o amigo dono da moto.
Para
mim foi interessante o fato de um dos amigos viajar de GS 650, uma moto igual a
“fogueteira” da viagem passada. Tive um cuidado especial com ele. Pedi algumas
ferramentas específicas e até comprei uma para lhe presentear, tal era a preocupação
minha com a moto. Foi uma experiência ir uma moto como a antiga da Chris, até
para que tirasse da cabeça a impressão ruim.
Os participantes
O grupo ficou
bastante eclético, tanto em pessoas quanto em motocicletas.
Os nove participantes:
Eu, André Carrazzone, de São José
do Rio Preto – SP, com uma DL650;
Eduardo Bulgarelli, de São José
do Rio Preto – SP, com uma DL1000;
João Otávio, de Poços de Caldas –
MG, com sua MT-03;
Alexander Bernardi, de São Paulo
– SP, com uma G650GS;
Celso Junqueira, de São José do
Rio Preto – SP, com sua Tiger 955i;
Paulo Zandinar e Neusa, de
Francisco Beltrão, PR, com a Shadow 750 e
José Marcio Gomes e Eliana, de
São José do Rio Preto – SP, com a Bandit 1250s.
Eduardo, Celso, Paulo e Neusa, Alex, Eliana e Zé Marcio,
eu e a Chris dentro do note!!!
2ª Fase - A viagem e seus
acontecimentos
O roteiro da
viagem, idêntica a que eu e a Chris fizemos em 2011 foi o seguinte:
- 1º dia: Saída “oficial” em São
José do Rio Preto – SP, com o encontro dos amigos João e Alex com o pessoal de
Rio Preto, que vieram de Poços e São Paulo respectivamente. Chegada em Maringá
– PR;
- 2º dia: De Maringá – PR para
São Miguel Doeste – SC;
- 3º dia: De São Miguel Doeste –
SC para São Borja – RS. Na saída de São Miguel nos encontramos com o casal
Paulo e Neusa;
- 4º dia: São Borja – RS para
Santa Fé, Argentina;
- 5º dia: De Santa Fé para Mina
Clavero;
- 6º dia: Seguimos de Mina
Clavero para Potrerillos, ao pé da Cordilheira dos Andes;
- 7º dia: Entramos no Chile pelo
Paso Los Libertadores seguindo até Santiago;
- 8º e 9º dias: Passamos esses
dois dias em Santiago;
- 10º dia: De Santiago fomos para
La Serena;
- 11º dia: De La Serena para
Taltal;
- 12º dia: Seguimos para
Antofagasta;
- 13º dia: De Antofagasta fomos
para San Pedro Atacama;
- 14º e 15º dias: Dias de
passeios em San Pedro;
- 16º dia: Saímos de San Pedro
rumo à San Salvador de Jujuy, novamente na Argentina, entrando pelo Paso de
Jama;
- 17º dia: De Jujuy seguimos para
Cafayate;
- 18º dia: Dia de passeios por
Cafayate;
- 19º dia: Início da volta,
saindo de Cafayate e seguindo até Santiago Del Estero;
- 20º dia: De Santiago Del Estero
até Resistência;
- 21º dia: Saímos de Resistência
até Puerto Iguazú, fronteira com o Brasil. O casal Paulo e Neusa seguiu conosco
parte do caminho e depois rumaram à Francisco Beltrão, chegando em casa neste
dia mesmo;
- 22º dia: Compras no Duty Free
cedo e depois, Maringá novamente;
- 23º dia: Final da viagem, de
Maringá até São José do Rio Preto para parte do grupo e, para o João, Ribeirão
Preto e, Alex, São Paulo.
A partir da
saída em Rio Preto, no dia 21 de outubro, fomos para Maringá, onde o amigo
Emerson estava comemorando seu aniversário. Programamos nossa chegada para o
almoço e encontramos, além do aniversariante, vários amigos de outras regiões,
foi muito bom!
à frente da foto, o aniversariante à direita, agachado junto ao seu irmão, Bella
Saímos no
outro dia bem cedo de Maringá para São Miguel, onde encontraríamos o Paulo e a
Neusa, mas, bem no finalzinho da viagem, faltando algo como 20 quilômetros para
a chegada, começou um temporal como poucos eu vi. Naquela esperança Brasileira,
não acreditei que teria que parar para colocar capa de chuva e os outros apetrechos
impermeáveis, mas, ledo engano, o “toró” foi de arrebentar. Ventos fortíssimos,
vindos da lateral, numa serra bem aberta, com visibilidade absurdamente baixa,
terrível! Segui o que foi possível e quando me dei conta já não via o grupo
todo pelo retrovisor e estava ensopado. Paramos em um posto e a ansiedade e
responsabilidade pelo grupo começou a me atordoar. Fiquei a beira da proteção do
telhado do posto, esperando um sinal do Celso e o José que ficaram pra trás.
Foi bem complicado! Após alguns minutos eles chegaram para meu alívio e dos
demais. Lógico, mais inteligentes que eu, pararam para colocar a capa de chuva
e vinham seguindo mais lentos por causa da visibilidade.
Chegamos a São
Miguel, mas nada de o Paulo e a Neusa chegarem. Depois eles nos mandaram uma
mensagem dizendo que, também por causa da chuva, haviam parado uns 40
quilômetros antes, inteligentemente, na cidade de Guarujá do Sul, e nos
encontrariam no dia seguinte.
No dia
seguinte, a prova de fogo. Início da viagem, já com bastante chuva. Mas o Paulo
chegou, animado, com a Neusa na garupa, já com a máquina fotográfica
“engatilhada”, acho que isso deu um animo especial e saímos então de São
Miguel, embaixo de chuva mesmo, sentido São Borja. A chuva nos acompanhou só no
comecinho da viagem, que foi excelente. Ficamos num Hotel a beira da rodovia, o
Executivo Parque Hotel. Jantamos por lá, já cheios de histórias para contar
sobre as chuvas que cada um havia pegado no dia anterior.
O fato do dia
foi o João, que após nossa saída da RN 14, entrando na RN 127, saiu
“desvairado” na frente do grupo, contrariando minha indicação de segurança ao
andar em grupo. O perdi de vista, mas confiei na sua habilidade e sensatez. Agrupamos
novamente e ele ficou algumas motos para trás de mim. Quando olho pelo
retrovisor, vejo que ele e o Alex pararam na entrada de uma cidade. Parei,
virei e voltei e, como havíamos combinado, cada um cuidava do parceiro que
vinha atrás, todos me viram virando e também retornaram. O João havia acertado
um buraco, dos grandes, e amassado a roda traseira da moto que fez com que o
pneu esvaziasse. Menos mal que estávamos em uma cidade, mesmo que pequena, que
haveria de ter uma borracharia. Logo que parei ao lado da moto dele e vi o
estrago, uma viatura de polícia veio em nossa direção e já acenei a eles
perguntando onde havia uma “gomeria”. Eles me indicaram uma há uns 200 metros
dali. O João foi então, empurrando a moto, ligada e engatada, até a
borracharia. Eu, fui à frente e o senhor que me atendeu (bem mal), me disse que
não trabalhava com motos e que a borracharia do outro lado da rodovia sim,
trabalhava com motos. Olhei para lá e vi que estava fechada e falei para o
senhor isso. Ele me falou para bater na porta que o borracheiro me atenderia.
Fomos então para lá, o João já suando todos os litros de água que tinha no
corpo, mas fomos. Bati na porta várias vezes. Bati mais um pouco. Daí bati mais
uma vez e um senhor, tamanho 1,60 x 1,00 m abriu a porta. Expliquei que a moto
precisaria de uma câmara de ar e que eu a tinha comigo, que precisava apenas
que ele tirasse o pneu da roda. O senhor olhou bem pra mim e falou que não
desmontaria a roda da moto. Eu falei que desmontava e ele então se prontificou
a fazer o trabalho. Tirei a roda e o senhorzinho tirou o pneu do aro. Já pedi a
câmara de ar para o João, mas, o senhorzinho veio com uma marreta, ou melhor,
um porrete, ou melhor, uma baita marreta, e disse que achava que conseguiria
desamassar o suficiente para o ar do pneu ficar nele. É difícil confiar nisso
por que já vi uma roda, minha mesmo, ser quebrada em pedaços com uma única
pancada. Mas o “tiozinho” foi em frente, comigo segurando a vítima com receio.
Aos poucos o velinho conseguiu mesmo desamassar a roda, montou o pneu, encheu,
e não é que ficou boa? Para resumir, por que isso demorou um bocado, tudo foi
conversado com o “tiozinho”. Futebol, motocicletas, que depois descobrimos que
ele também tinha uma, enfim, acabou sendo tranquilo.
Saímos de lá,
andamos mais uns poucos quilômetros e vi o João novamente parando na rodovia. A
moto estava vazando gasolina, algo que já havia acontecido com ele. Ele me
disse o que poderia ser, desmontamos o tanque e foi certeiro. A mangueira da
bomba de combustível havia desconectado do tanque. Uns parafusos, umas porcas,
click, e seguimos viagem até Santa Fé.
No outro dia,
uma passagem que me preocupava por conta da polícia corrupta, San Francisco. Na
entrada da cidade um comando, o policial me acenou para seguir e ainda por cima
me desejou “buen viaje”. Pensei comigo que seria tranquilo. Na cidade nenhum
policial e fui tranquilizando mais ainda. Na saída, quase em frente ao posto
onde abasteceríamos, outro comando. Neste o policial veio com “a faca nos
dentes”. Em resumo, bem resumido, puxei a conversa do policial toda pra mim, falei
umas mentirinhas e colou! Anos de experiência policialística Argentinenha!!!
No posto, depois das mentirinhas!
Bom, daí para
frente a viagem realmente começaria. Para mim por que havia passado o que tanto
me preocupava e para os companheiros por que começariam as lindas paisagens
Argentinas e Chilenas.
Passamos por
Cordoba, pelo anel viário da cidade, em seguida pela Cuesta Branca e Serra de
Mina Clavero. Tudo lindíssimo como sempre. Menos frio do que eu esperava.
Segundo os companheiros, dia perfeito! Todos ficaram muito felizes com o
passeio e começaram a sentir o que seria a viagem! Ficamos no mesmo hotelzinho
que eu havia ficado com a Chris em 2011, o Coronado.
Cuesta Branca
Serra de Mina Clavero, Alex e Edu
Motos em frete ao Hotel Coronado
Interessante
que ao avistar a Serra de Mina Claveiro, no dia anterior, o Celso e o Alex
pensaram ser já a Cordilheira, mas os avisei que ali era bem menor do que
veriam.
A chegada a
Potrerillos é linda! Avistamos o lago com o mesmo nome da cidade, formada por
degelo e pelo rio Mendoza. Ficamos nas Cabañas Andinas, indicação de um amigo
que já havia ficado ali. Não tem restaurante, o que nos rendeu um passeio de
moto, por uns três quilômetros, serra acima, à noite, com bastante frio, para
ir a um restaurante. Eu paguei caro por isso, vou contar jajá. Detalhe, o Celso
não quis pegar a moto e foi na garupa do Alex, cena curiosa!!!
Vista da Cordilheiro, do Cabañas Andinas
Mais uma, é demais!!!
Uma imagem fala mais que mil palavras...medonho!!!
Em 2011 um
motociclista faleceu em decorrência de um acidente de moto, na subida da
Cordilheira, há 70 quilômetros de Potrerillos. Como havia participado do grupo
que ajudou os companheiros dele naquele momento, resolvi por bem fazer-lhe uma
homenagem quando passássemos ali. Mandei confeccionar um troféu para a
homenagem, com seu nome, indicando as amizades, que mesmo após sua vida aqui,
havia conectado comigo.
Há uns 20 quilômetros
do local, começou a ventar muito e a parada foi bem complicada. Com acostamento
estreito e muito cascalho no mesmo, mas paramos e fizemos a foto. Fiz minhas
orações e posso afirmar que foi muito gratificante e emocionante ao menos para
mim.
Os infinitos túneis antes da Cordilheira
Entrada do Túnel Cristo Redentor
Saída do Túnel Cristo Redentor...uma luva do Alex voou...
...ele pegou, mas foi difícil e teve que ter recompensa!
Caracoles depois da Aduana...ano passado, aquele lago ali estava marrom
Em Santiago,
no dia seguinte, o pagamento do dia em Potrerillos que andamos de moto à noite.
O “esperto” aqui foi para o restaurante bem desprotegido e consegui pegar uma
“baita” gripe, daquelas completas mesmo! Acordei bem mal, com nariz escorrendo,
ouvido tampado, tossindo, enfim, “daquele jeito”! Combinei com o pessoal de
acordar um pouco mais tarde e, após o café, seguirmos ao Valle Nevado. A subida
do Valle é sempre linda, com muitas curvas e paisagens de tirar o fôlego.
Lógico que rendeu muitos “megas” de fotos e vídeos.
Na subida,
segui um pouco a frente, para encontrar uma parede cheia de neve e recepcionar
o pessoal com uma “bolada”. Fiz isso com todos, muito legal pra mim e, imagino
também pra eles! Quando cheguei lá em cima, depois deles, é claro, vários
quilos de bolas de neve me esperavam, foi ótimo!
O Paulo e a
Neusa, campeões no aproveitamento dos passeios, seguiram para cima do Valle,
alugaram botas impermeáveis se divertiram muito lá em cima. Fiquei ali embaixo,
quietinho por conta da gripe, vendo os dois se divertir. Pensei muito na Chris
nessa hora. Eles curtem as viagens como eu e ela, bom demais ver isso!!!
Duas frases
povoaram meus pensamentos durante a viagem: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” e “Aproveita quem sabe, não quem quer”. São
duas verdades verdadeiras na vida e principalmente em viagens. Quem quer
aproveitar, aproveita, nos mínimos acontecimentos! Viagem de moto tem aquele
apelo de aventura, de “fui lá longe”, mas nem todos conseguem realmente curtir
uma. Estávamos em um grupo bom que soube aproveitar, cada um do seu jeito, o
passeio!
Na decida,
mais curvas, paisagens, um pouco de transito, mas delicioso! Fomos para o Hotel
e eu fiquei “internado” no quarto para ver se melhorava. Minha preocupação era
atravessar a Cordilheira novamente, em Calama, com gripe. Precisava de qualquer
forma sarar antes disso. Dei um pulo em uma farmácia perto do hotel e comprei
uns remédios para tomar. Salvaram a pátria já que eu havia levado pouco remédio
para gripe.
Alguém tirou foto da preparação pra bolada!!!
Os dois ai no meio da imagem, são Paulo e Neusa. 100% aproveitamento!
No dia
seguinte acordamos cedo para fazer a troca de óleo nas motos, conforme
combinado com o Carlos, da Moturing Chile. Chegamos um pouco cedo e fomos dar
uma volta na região até a hora de ele abrir a oficina. Acabamos por encontrar
uma loja da Triumph, que o Celso depois voltou para comprar uns presentinhos.
Fizemos as
trocas, compramos um pouco lá no Carlos e na Touratech, ali perto, e voltamos
ao Hotel para nos preparar para o dia seguinte. À noite fiquei sabendo que o
João ficaria em Santiago mais um ou dois dias por conta do barulho que sua moto
fazia.
Saímos de
Santiago bem cedo já que o dia era longo. Fizemos um trajeto alternativo,
passando pela Cuesta Barriga e Cuesta Zapata, que são paralelas à rodovia 68
que vai até o Pacífico, mas muito mais interessante. Passamos por Viña Del Mar,
onde abastecemos e seguimos pela Rodovia Panamericana, Ruta 5, até La Serena.
Muitas fotos na placa que indica a rota de fuga em caso de Tsunami e pés
molhados no Pacífico.
De La Serena
seguimos até a cidade de Taltal. Pequena e acolhedora, era uma cidade
dormitório de mineiros, chegando a ter uma população bem grande. Hoje é uma
cidadezinha bem gostosa de visitar, com uma população muito animada. Aliás, era
Halloween, que é comemorado no Chile e, as crianças estavam todas vestidas a
caráter, buscando nas casas e lojas, por doces e presentes. Foi muito legal e
também rendeu muitas fotos.
No restaurante
onde jantamos, aconteceu um fato engraçado, que vou guardar por muito tempo: o
Celso queria algum prato com alho e eu não me lembrava como se falava, então,
para ajudar (ou atrapalhar mais ainda) o Alex vira para a garçonete e diz:
“Conoces El Conde Drácula?”. Imagine, ele ia explicar o que era alho, “aquele
que fica pendurado no pescoço das prováveis vítimas do Drácula”!!!! Jesus!!!!
Por milagre a moça conseguiu entender sem que o Alex desse continuidade da
história!!! Foi hilário!
Nosso 4º encontro, meu e da mão!
Quem tem gasolina para vender no deserto é Rei. 100 "reau" o litro
Se precisar de um gozador, esse não serve...
La portada
De Antofagasta
fomos em direção ao que seria o principal ponto da viagem, San Pedro de
Atacama. Uns dias antes, recebo um email do Hotel onde ficaríamos hospedados, o
Don Raul, dizendo que nossa reserva para o dia 1º estava confirmada. Só que a
nossa chegada era dia 2 e eu já havia recebido o voucher confirmando tal data.
Foram muitos emails e telefonemas trocados com a Chris (que nos dava suporte) e
com o Hotel. Um stress que passamos, eu e a Chris principalmente, e que além de
tudo nos rendeu uma bela conta de telefone. Bom, faz parte.
Ao chegarmos
lá o pessoal do hotel já havia resolvido o problema, nos reservando um quarto
de casal lá e mais um de casal e um quádruplo no hotel ao lado, Hosteria Casa
de La Mireya. Muito bom por sinal e, melhor, mais barato.
Quando
entramos em San Pedro me assustei com a quantidade de gente. A rua principal parecia
um show de rock. Apavorei-me com a possibilidade de não conseguir agência para
o pessoal fazer os passeios, de tanta gente que tinha lá.
Fomos ao posto
de combustível para deixar as motos já abastecidas e seguimos ao Hotel para nos
acomodar. Em seguida, pedi aos companheiros que fossem rápido para irmos até as
agencias, agendar os passeios.
Durante o
planejamento eu tinha entrado em contato com o pessoal da agencia Grado 10 e,
por sorte a moça que nos atendeu, muito bem alias, a Daniele, se lembrou disso
e fez de um tudo para que conseguissem fazer os passeios com eles. Todos
estavam lotados, mas a agencia conseguiu uma Land Rover, ano 2012, com um
guia/motorista, que levaria o pessoal para os passeios no dia seguinte, Sábado.
Para o Domingo, dia que visitariam o Geiser del Tatio, contratamos outra
agencia, bem “mequetrefe”, mas que os serviu também.
Não vou me
estender muito contando os passeios, mesmo por que não fui junto com eles por
já conhecer todos. Economizei um dinheirinho e li um bom livro, descansando no
Hotel. Quero apenas contar alguns fatos.
Na noite do Sábado,
estávamos comemorando e jantando num restaurante que eu gosto muito de lá,
quando o Paulo (que já havia ido para o Hotel descansar) retorna com quem? Com
o João. Isso mesmo, o João, que tinha ficado em Santiago para arrumar a moto,
veio em dois dias, andando muitos quilômetros por dia, para nos encontrar em
San Pedro. Foi muito emocionante e nos fez pensar sobre a capacidade de
diversão, novamente, de um motociclista. “Tudo vale a pena quando a alma não é
pequena!”.
Passamos o
Sábado e o Domingo lá, com muita diversão, paisagens, fotos, e tudo o que é
possível aproveitar em San Pedro.
Eu, Alex, Edu e Licancabur ao fundo
Laguna Miscanti. O pessoal caprichou demais nas fotos!
Vale de La Luna
Geiser Del Tatio
Na segunda
seguimos para a Argentina novamente. Nosso destino do dia seria San Salvador de
Jujuy, mas antes, passaríamos pelo trecho da Cordilheira que considero um dos
mais bonitos, pelo Paso de Jama. Todos adoraram! Passamos por várias llamas,
flamingos, curvas e mais curvas, tudo com a paisagem linda do deserto do
Atacama.
Essa foto ficou demais!!!
Saída de San Pedro Atacama
Aduana em Jama
Salina Grande, Argentina
Montanhas multi cores na Ruta 9, perto de Jujuy
No dia
seguinte, eu havia preparado dois roteiros diferentes. Um mais radical até
Cafayate, passando por cidades como Payogasta e Cachi, e locais turísticos como
Cuesta del Obispo, Piedra del Molino, Parque Nacional Los Cardones, entre
outros. Esse, contemplava uns bons quilômetros de ripio, pela Ruta Nacional 40.
O outro ia direto pelo asfalto até Cafayate, com outros pontos turísticos
também como Garganta del Diablo, Quebrada de Las Conchas, entre outros. Todos
os dois bem divertidos, para cada gosto.
Seguimos eu, o
Alex e Eduardo pelo mais radical e o resto do grupo seguiu pelo “lado rosa”,
como diziam meus amigos na época de trilha! Foi muito divertido e este vídeo
mostra bem. No final do vídeo dá pra ver exatamente a nossa emoção.
Comecinho da Cuesta Del Obispo
No alto da Cuesta
Reta de Tim Tim. Nada de mais, só mais uma reta, mas com nome!
Ruta Nacional 40, após Cachi
Nesse lugar, depois alguém me confessou que queria chorar!!!
Em Cafayate, o
Hotel Emperador, que eu havia ficado com a Chris em 2011, tem um bar bem ao
lado. Pensei “nossa, o Celso bem que poderia estar nos esperando com uma
cerveja gelada no bar!”. E não é que ele estava? Muito gelada e super bem
vinda!
A moto do sedex e a loira que nos esperava!!!
Putz, sujei a moto toda!!!
Grandes parceiros... Alex e Eduardo.
As amizades que ficam é o que realmente importa nessa vida!!!
Lavanderia do Hotel Emperador???
No dia
seguinte continuamos em Cafayate, já que se trata de uma cidade em uma região
de muitas vinícolas, para que o pessoal pudesse passear, comprar e conhecer os
vinhos e também descansar.
De Cafayate,
seguimos então para o último terço da viagem. Saímos em direção a Santiago del
Estero, passando pelas Ruínas de Quilmes, Quebrada de Los Sosa, além das
cidades de Tafi del Valle e Termas do Rio Hondo.
De Santiago
seguimos para Resistência, num dia extremamente quente e exaustivo. Passamos
pela estradinha que eu havia passado com a Chris em 2011, estreita e de
concreto, que foi uma das últimas emoções da viagem, além do próprio calor.
Em Resistência,
o Hotel que ficaríamos, o Atrium, estava lotado. Não tinha feito reservas ali,
já que não tinha certeza de nossa chegada naquele dia. Recebi algumas
indicações da atendente do Hotel e acabamos por encontrar um excelente, a beira
da Rodovia Nacional 16, com tudo que tínhamos direito depois de um dia de muito
calor, foi muito bom!
A noite, no
jantar, o pessoal fez uma homenagem para mim que me emocionou muito,
principalmente as palavras da Neusa, muito emocionante e gratificante mesmo. Eu
é quem tinha que agradecer a todos eles, pelo que aprendi e pude aproveitar
durante a nossa convivência.
Seguindo,
fomos para Puerto Iguazú onde pernoitamos para no dia seguinte fazermos compras
no Duty Free e seguir para Maringá. De Maringá viemos até Rio Preto, onde nos
despedimos do Alex e do João que ainda seguiriam viagem.
3ª Fase – O legado
Eu acabo
prestando muita atenção às reações das pessoas, antes, durante e depois das
viagens e acabei assim, desenvolvendo algumas teorias. A principal delas eu
percebi nas primeiras viagens que fiz com a Chris. Quando fomos para Ushuaia,
por exemplo, a primeira grande viagem dela, vi que muita coisa ela comentava em
tom crítico. Desde a moto, temperaturas, roupas, tudo. Mas estava se divertindo
também. Era possível perceber isso!
Depois da
viagem, vieram os ganhos. Ela já pilotava melhor, tinha muito mais segurança em
tudo, e afirmo que não era específico da vida motociclistica. Estendeu-se em
todos os ambitos da vida dela. Então, a teoria é a seguinte: se a pessoa
quiser, se prestar atenção nisso, vai saber que após uma grande viagem, vem um
desenvolvimento enorme, de pilotagem até relações pessoais. O aprendizado consequência
de uma experiência dessas segue para a vida toda. Cada vez que acontece algo
onde o bom senso, a calma ou a paciência é testada, lembro-me de algum
acontecimento em viagem e sei que “dou conta” do recado.
Então é assim,
a viagem se divide em três etapas distintas: a primeira que é o planejamento e
preparação, a segunda que é a viagem mesmo e a terceira que é o aprendizado ou,
o legado.
Compare por
exemplo com uma criança na escola. Tudo é difícil, tudo é um problema, as
provas são complicadas, estudar é um martírio, mas, assim que a nota da prova
sai, boa ou ruim, o que vem a seguir eu equiparo a essa terceira etapa. Se boa
nota, o alívio e a certeza que é possível desenvolver-se e aprender sobre
qualquer coisa. Se ruim, sabe-se que algo foi feito de maneira equivocada, sem
organização e da mesma forma, aprende-se uma lição.
Nesta viagem
comentei isso com os amigos e percebo que em sua maioria, as atitudes mudaram.
Imaginem uma pessoa sem o costume de viver na simplicidade, sem as facilidades
do dia a dia, tendo que fazer isso e ainda por cima conviver com pessoas que
não está acostumada. Alguma coisa deve ter tido como aproveitamento,
consequência dessa experiência. Imagine uma pessoa que nunca havia andado
quilometragens altas, ter que fazer isso, e pior, todos os dias. Andar em
terra, fazer paradas menores ou maiores que as de costume, dar razão à outra
pessoa, conviver com os medos, com as vaidades e personalidades diferentes,
durante tanto tempo. De alguma forma isso se refletirá no futuro.
Acho muito
legal ver o avanço da Chris e o meu, após cada experiência dessas. Na
pilotagem, nos relacionamentos, no companheirismo, na necessidade de ser
paciente, de ser amigo, de ouvir quando não queria, de ouvir o que não queria e
saber entender. Talvez seja essa terceira fase, a explicação mais sensata do
por que viajar, do por que executar, agir, sair do comum, do natural, e
experimentar novidades.
Conclusões
Para mim foi
uma das experiências mais enriquecedoras que tive a oportunidade de participar.
Novos amigos, velhas amizades fortalecidas, confiança na própria capacidade de
agir, de liderar, de lidar com as diferenças e dificuldades. Acreditei na minha
vontade, sonhei, planejei e executei. Depois parei, comparei com a minha vida e
de novo, aproveitei tudo e aprendi mais um monte de coisas.
Ah, e o mais
importante: não perdi ninguém pelo caminho!
Bom dia! Primeiramente, gostaria de parabenizá-los pelo site. Há bons relatos e bastante informação. Fiquei curioso em saber onde conseguiram, ou a marca, do galão extra de gasolina? Me refiro ao galão da foto a seguir: http://3.bp.blogspot.com/-KEYbGbvTk9M/UNxXgIOAmrI/AAAAAAAAAaY/dDsseDKeiks/s1600/01102012275.jpg
ResponderExcluirPretendo fazer uma viagem para lugares onde não haverá muitos postos de gasolina e, muito provavelmente, precisarei de gasolina extra.
Desde já, obrigado pela atenção!
Kallás
Kallás,
ExcluirBom dia,
Esse galão é Canadense! Mas olha, é uma frescura. Pode levar galão tipo "bombona", feito para produtos quimicos, dá na mesma, com a vantagem de você não ficar se preocupando se vão te roubar ele, hehehe!
Abraços,
André
Ahh! Obrigado pela informação! Estou quase comprando um tanquinho de gasolina de motor de popa (12L). Não vou precisar de tanto, mas, quebra o galho. A título de curiosidade, nas minhas pesquisas pela internet, uma outra pessoa me deu uma dica de galões no exterior e repasso para você.
ResponderExcluirFica a dica: http://www.rotopax.com/
Valeu!
Kallás
GLK, compre um galãozinho de 5 litros, desses de produtos quimicos. Quanto mais chique o galão, mais preocupação você terá com roubo, vai por mim!
ResponderExcluirParabéns pelo relato, André. Gosto muito de ler relatos de viagens de moto e gostei muito dos seus. Assim vou sonhando com a minha viagem que um dia chega. Quem sabe, se vc levar em frente essa história de guia de turismo, tento embarcar numa futura viagem.
ResponderExcluirValeu!!
Samuel Souza
Que bela viagem e quão bem escritos os relatos! Nem se falam as fotos... maravilhosas!
ResponderExcluirVai fazer mais passeios pagos guiados?
Abraços!
Boa tarde Douglas, estamos saindo em Maio agora para um passeio igual à esse. Se te interessar me envie um email (andrecneto@terra.com.br), abraços e obrigado pelas palavras!
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